segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Judeus e Muçulmanos: um antigo problema atual.


Judeus e Muçulmanos: um antigo problema atual.


Tenho acompanhado com bastante interesse alguns acontecimentos recentes relacionados com o Irã (país que defende um islamismo radical) e Israel. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, há meses vem fazendo declarações polêmicas contra Israel, inclusive dizendo que o estado judeu deveria desaparecer do mapa, ou que o holocausto é uma invenção e que realmente nunca aconteceu. Como era de se esperar estas declarações fizeram com que os mandatários de vários países condenassem as declarações de Ahmadinejad. Ao mesmo tempo Israel não se fez esperar e um dos candidatos ao cargo de primeiro ministro, Benjamin Netanyahu, já disse que, caso seja eleito nas eleições de março, atacará as instalações nucleares iranianas pois ele (assim como muitos líderes políticos ao redor do mundo) acredita que o que o Irã realmente planeja é construir armas nucleares para atacar Israel e adquirir uma maior hegemonia na região, aproveitando que a situação no Iraque se complica a cada dia.

Como sabemos, o confronto entre judeus e muçulmanos adquiriu maior expressão com a criação do Estado de Israel logo depois da Segunda Guerra Mundial. Muçulmanos de todo o mundo nunca conseguiram digerir o que aconteceu ao povo palestino (composto na sua maioria por árabes muçulmanos, mas com uma importante minoria árabe-cristã) que vivia na região há muitos séculos e que, de um momento para outro, se viu destituído de suas casas, propriedades, trabalhos, etc., como conseqüência da chegada dos judeus, apoiados pelas principais potencias da época. Em qualquer conversa com muçulmanos sobre a situação atual do Oriente Médio, é quase impossível que este acontecimento não seja citado. Obviamente tanto judeus como muçulmanos possuem os seus argumentos, uns mais válidos que outros.

O que mais me preocupa, no entanto, é ver que existe uma longa trajetória na escritura e história islâmica contra os judeus, e isto dá ainda mais incentivo para que grupos radicais muçulmanos atuem contra Israel e seus aliados.
Sob a liderança de Maomé (ao redor do ano 620) cerca de 700 judeus na cidade de Medina foram executados, supostamente por terem traído o exército muçulmano. No entanto, alguns historiadores dizem que a sentença foi tão severa porque os judeus não queriam aceitar Maomé como um profeta. Ao mesmo tempo, nas Suras 2:109, 2:120 e 3:100 do Alcorão os fiéis muçulmanos são exortados a tomarem muito cuidado com os judeus e cristãos pois, o que eles querem, é desviar os muçulmanos dos caminhos de Deus. Na Sura 5:85 os judeus são mencionados, juntamente com os pagãos, como os piores inimigos dos muçulmanos. Como se isto não fosse suficiente, os muçulmanos (com base nas Suras 7:166, 2:60 e 5:65) acreditam que Deus transformou alguns judeus em macacos e porcos por causa da sua desobediência, e que hoje em dia os porcos e macacos que vemos nos diferentes lugares podem ser descendentes destes judeus!

Se as razões para tamanha desavença entre muçulmanos e judeus fossem somente políticas, provavelmente haveria a possibilidade de uma resolução mais rápida do conflito. No entanto, com os aspectos histórico-teológicos mencionados acima, creio que uma resolução se torna bem mais complexa, principalmente se levarmos em conta que os religiosos judeus também possuem várias razoes histórico-teológicas para justificarem o seu enfrentamento com os palestinos.
Oremos para que o Senhor dê muita sabedoria aos líderes dos países envolvidos nestes conflitos, neste momento em que a estabilidade mundial está bastante ameaçada pelos conflitos religiosos, étnicos, sociais e geopolíticos que estão afligindo uma boa parte da humanidade.


 AUTOR- Marcus Amado - É doutorando em teologia com especialidade em islamismo, na London School of Theology.